Está é minha Súmula curricular. Mas como nem tudo cabe no Lattes, eu relato a seguir minhas melhores práticas que contribuem para o desenvolvimento científico, tecnológico e educacional e que me permitiram seguir um caminho por uma sociolinguística socialmente sensível e alinhada às práticas de Ciência Aberta

Pistas do processamento da variação linguística

Campo emergente e interdisciplinar, com interface com a Psicolinguística e as Ciências Cognitivas, os estudos de processamento da variação linguística visam desvelar o custo cognitivo do processamento de um dado traço linguístico, considerando os padrões de recorrência da produção e os padrões de julgamento da percepção.

O esforço cognitivo associado ao processamento de uma variante pode ser medido de maneira direta, com o tempo de resposta, ou indireta, com os reparos e correções do falante. Os resultados destas medidas podem ser obtidos por diferentes desenhos experimentais, cujas tarefas permitem o controle do contexto para minimizar efeitos de outras variáveis intervenientes, assim como possibilitam a aferição dos efeitos de diferentes situações para um mesmo alvo. A conjugação de tarefas com medidas implícitas e explícitas, assim como resultados obtidos por métodos observacionais pode apontar para a atuação de forças cognitivas implícitas, como a consciência sociolinguística, e explícitas, como o prescritivismo, ou, ainda, pela conjunção das duas.

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Saliência, percepção e atitudes sociolinguísticas

O que seria do vermelho se todo mundo só gostasse do amarelo? Por que uns gostam de vermelho e outros de amarelo? Transpondo para a língua, por que certos traços linguísticos são bem apreciados e avaliados, e outros são o contrário? Este é o tema do meu projeto de Produtividade em Pesquisa atual. Em termos metodológicos, para identificar a que significados sociais uma variante está associada, a abordagem sociolinguística considera fenômenos de variação do ponto de vista da produção (quem usa? em que contextos?) e do ponto de vista da percepção (como os falantes julgam as variantes? a quem eles as associam?). Um artifício conceitual utilizado para articular as duas perspectivas de abordagem é a saliência. No período de 2017 a 2020, meu foco de pesquisa foi investigar a relação entre saliência cognitiva e consciência social, testando diversas abordagens e em diversos fenômenos.

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Tecnologias sociais para formalização e ressignificação de práticas culturais em Aracaju/SE

A participação no projeto Tecnologias sociais para formalização e ressignificação de práticas culturais em Aracaju/SE, financiado pelo edital CAPES/FAPITEC/SE 05/2014, Programa de Integração da Ciência, Tecnologia e Inovação com a Educação Básica – Núcleos de CTI-EB, foi uma das experiências mais desafiadoras que enfrentei.

Na perspectiva da pedagogia culturalmente sensível (Erickson, 1987), segundo a qual a escola deve partir dos valores socioculturais da comunidade onde está localizada, buscamos investigar um arranjo produtivo local ainda não sistematizado, as comidas tradicionais.

A partir da identificação de valores, práticas e produções culturais no entorno de três comunidades escolares, fomentamos o desenvolvimento de tecnologias sociais relacionadas à produção de alimentos e o seu comércio informal. Desenvolvemos uma proposta de abordagem para identificar os alimentos tradicionais e típicos sergipanos, a partir do que é consumido diariamente, na forma do curso Em busca da comida mais sergipana. Foram realizadas oficinas para instrumentalizar os alunos a registrarem seus hábitos alimentares e da sua família, envolvendo conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática no processo de identificação e sistematização das receitas.

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  • Curso Em busca da comida mais sergipana, disponível no Repositório Institucional da Universidade Federal de Sergipe, que pode ser replicado em outras escolas ou adaptado para outras realidades.

  • Inicialmente pensado como manual para a orientação da equipe, o livro Documentação Sociolinguística, coleta de dados e ética em pesquisa, publicado pela Editora da Universidade Federal de Sergipe e disponível gratuitamente para download, em que são apresentados as diretrizes de documentação sociolinguística em espaço escolar, bem como orientações para atendimento aos preceitos de ética em pesquisa científica.

  • Capítulo Processos fonológicos que passam da fala para a leitura, do livro organizado por Isabel Azevedo e Alberto Roiphe publicado pela Editora da Universidade Federal de Sergipe e disponível gratuitamente para download, em que são analisados processos fonológicos variáveis na fala e na leitura dos estudantes das escolas envolvidas no projeto que participaram da ação de documentação linguística. Estes resultados subsidiaram a proposta de controle de fluência em leitura e diagnóstico de perfil de leitor.

  • Artigo Pistas dos processos de decodificação que levam à compreensão da leitura, publicado na revisa Letras de Hoje, em coautoria com minha orientanda de doutorado Alessandra Pereira Gomes Machado, em que apresentamos uma proposta de diagnóstico de perfil de leitor, considerando as pistas de processos de automaticidade na decodificação que levam à compreensão da leitura, com a participação de estudantes da educação básica das escolas envolvidas no projeto.

  • Artigo Enem: motivações e expectativas de estudantes da rede pública estadual de Sergipe, resultado de um trabalho selecionado para apresentação no Encontro Nacional Ciência e Habilidades Socioemocionais (CHA-SE),em 2016, e posteriormente publicado na revista Scientia Plena, e que foi desenvolvido junto com os bolsistas de Iniciação Científica vinculados ao projeto em duas das escolas, Colégio Estadual Atheneu Sergipense e Colégio Estadual Ministro Petrônio Portela, avaliando expectativas prévias e posteriores à realização do Enem. Os resultados evidenciam as diferenças entre as escolas.

Além destes produtos, a formação de recursos humanos foi um diferencial: Alessandra Machado e Andréa Matos desenvolveram suas teses de doutorado, Rosângela Barros desenvolveu sua dissertação de mestrado, e três bolsistas de Iniciação Científica do projeto atualmente são mestrandos: Paloma Batista Cardoso, Victor Renê Andrade Souza e Lucas Santos Silva, que foi agraciado em 2018 e em 2017 com o Prêmio João Ribeiro de Divulgação Científica na categoria Jovem Cientista, com produtos derivados deste projeto.

 

Gênero, polidez e variação linguística & Mulheres, linguagem e poder: estudos de gênero na sociolinguística brasileira

Entre 2012 e 2016, coordenei dois projetos que tiveram como temática o tratamento das relações de gênero na Sociolinguística. No meu projeto de Produtividade em Pesquisa, Gênero, polidez e variação linguística, o ponto de partida foi a crença de que mulheres são mais polidas, nem falam palavrões. Será? E se não, por que existe essa percepção? Os fatores pragmáticos, como o efeito do entrevistador na fala do entrevistado, que pode ser medido quanto à polidez decorrente das relações de poder e de solidariedade estabelecidas entre entrevistador e entrevistado e em relação ao sexo/gênero demandam o desenvolvimento de estratégias metodológicas específicas, com um protocolo de de documentação para captar efeitos no uso que permitam evidenciar o perfil de gênero associado às variantes linguísticas em função dos papéis sociais.

Na mesma linha metodológica, o projeto Mulheres, linguagem e poder: estudos de gênero na sociolinguística brasileira, financiado pelo CNPq e pela infelizmente extinta Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, e coordenado conjuntamente com Cristine Severo, também estava alinhado às questões metodológicas. Considerando a linguagem e o papel contemporâneo das mulheres e das relações de gênero, discutimos ajustes teórico-metodológicos no campo da Sociolinguística desenvolvida no Brasil para oferecer um instrumental de pesquisa atualizado, especificamente, o papel do sexo/gênero na Sociolinguística no Brasil atual. Considero este empreendimento de pesquisa crucial para a consolidaçõ de minha carreira e de me permitir avançar não só no plano acadêmico, mas no plano das relações humanas, contribuindo para uma ciência engajada socialmente.

Os resultados do projeto foram compilados no livro Mulheres, Linguagem e Poder - Estudos de Gênero na Sociolinguística Brasileira, disponível para download gratuitamente.

Clique aqui se quiser conhecer outros detalhes do desenvolvimento destes projetos e seus produtos Este projeto também envolveu uma equipe grande e fomentou a formação acadêmica de mestrado de Andreia Silva Araujo e Josilene de Jesus Mendonça (ambas atualmente doutorandas), Kelly Carine do Santos, Rebeca Rodrigues de Santana, Cristiane Santana Ribeiro e Thaís Andrade Corrêa.